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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Meu relato de quase Parto humanizado (Casa Angela/ Maternidade Salvalus)

Meu quase Parto: Casa Angela/ Maternidade Salvalus

Ás 3h da madrugada do dia 10 para dia 11/09/2014 acordei com cólicas semelhantes as pré menstruais. Tentei dormir, mas só consegui cochilar, me dei conta que eram contrações.

Ás 10h estavam com intervalos de 10 em 10 minutos, 8 em 8, 7 em 7, depois voltavam para 10 em 10, as dores eram fortes, me paralisavam, então decidi sair, fui ao banco e a cada 10 passos que eu dava na rua, travava de dor quando sentia essa cólica, mas mesmo assim continuei a rotina, depois passei no Habibs comi umas esfihas e voltei para casa. Conversei com minha mãe e ela me disse que eu estava em trabalho de parto. Avisei a minha doula Cristiane Mezzari Gomez e ela foi me acompanhando via internet. Uma amiga veio me visitar, conversamos um pouco e enquanto isso as dores das contrações continuavam intermitentes.

Por volta das 19h meu marido chegou do trabalho com a notícia de que nosso carro havia quebrado, PUTS!!! Logo agora??!! NÃOOOOOOO!!! Mas ok, o carro do sogro era o plano B!!!

Ás 22h as contrações começaram a ficar mais intensas e o intervalo entre elas começaram a diminuir, tentei dormir, mas já estava insuportável, tive então a brilhante ideia de ir para o chuveiro, MINHA NOSSA!!!! As dores aumentaram, eu pulava embaixo do chuveiro, parecia que tinham facas me cortando o baixo ventre.

Ás 2h da manhã, já estava muito difícil, as contrações oscilavam de 3 em 3 para menos, depois voltavam para 3 em 3. Eu já gemia muito, fiquei de 4 apoios no sofá, isso me aliviava consideravelmente. Pedi para meu marido entrar em contato com a Casa Angela e fomos orientados a ir para lá.

Fomos então no carro de meu sogro, confesso que mesmo com este gesto nobre de me levarem até lá, me senti muito incomodada, pois o carro do sogro é “zero”, isso me deixou tensa, pois fiquei preocupada com que minha bolsa estourasse no carro (ele é muito exigente com as coisas dele) tive que ir sentada no banco espremida lá atrás, quando minha vontade era estar de 4 ou em outra posição que me deixasse mais confortável.

Minha sogra, foi ao meu lado, segurando minha mão e falava pra eu respirar “assim e assado”, isso me irritou profundamente e ao mesmo tempo me fazia me sentir culpada, pois eu realmente estava agradecida por me levarem até lá, mas ao mesmo tempo eu só queria ficar no “meu mundo”, concentrar do meu jeito, para aliviar aquela dor. A casa Angela está a mais ou menos 1h30m de distância de minha casa, mas com tantas dores e toda essa tensão de estar no carro deles, parecia não chegar nunca.

Meu marido avisou minha doula Cris e nos encontramos no meio do caminho, foi extremamente tranquilizante, vê-la sorrir para mim assim que nos encontramos, me senti mais confiante e aliviada.

Chegamos á casa Angela, já com as contrações ritimadas em 2 e 2 minutos, fui recebida pela Juliana (um amor de pessoa), fizemos o cardiotoco, estava tudo bem comigo e com o bebê, o aparelho já apontava 99 logo que a contração começava, quando elas vinham eu fechava os olhos e não me concentrava em mais nada. Fui para o quarto, fizeram o toque e eu estava com 3 cm de dilatação, quando as contrações vinham a Juliana apertava meu quadril, como era bom, como aliviava minha dor!!! Fui para o chuveiro, fiquei abraçada com a bola, gemia como um bicho selvagem, minha doula e meu marido sempre ali me cuidando e observando, já havia perdido a noção das horas.

Voltamos para o quarto, fui andando pelo corredor e me deparei que já havia amanhecido, era dia 12, percebi que ao andar conseguia aliviar a dor das contrações, entrei no quarto e já não conseguia mais comer, comecei a andar de um lado para o outro, em minha mente eu queria conversar, mas não conseguia sair desse estado de introversão, naquele momento, era “eu, meu bebê e as contrações” e MAIS NADA.

Andava, andava, andava, andava, andava e quando a contração vinha começava a levantar as pernas de um lado para o outro. UOUUU!!! Como isso aliviava minha dor!!! A Cris esquentou umas bolsinhas para eu colocar na lombar e aliviar as dores, mas não adiantava, tudo que tocasse minha lombar me incomodava demais, então ela sugeriu ir para a banheira, eu fui, mas ao encostar na água, parecia que estava sentando em um arsenal de lanças, daí pedi para diminuir a quantidade de água e consegui ficar um pouco.

Passo a lembrar desses momentos em flashs, a dor começou a aumentar demais e as contrações diminuírem os intervalos, o turno foi trocado na Casa Angela, me recordo de entrar no quarto cada vez uma pessoa diferente, isso me incomodou, embora fossem todas muito amáveis, mas eu queria ficar sozinha, não queria ser examinada, queria ficar alí sem ninguém tocar em mim (obviamente elas deveriam me avaliar e também o bebê, mas eu não conseguia ser racional neste momento).

Por volta das 10h da manhã fizeram um toque e eu estava somente com 5 cm de dilatação. O QUE?? TODAS ESSAS HORAS DE DOR, CONTRAÇÃO E SÓ DILATEI 5cm ( na verdade 2cm, pois durante a gestação eu já estava com 3cm)??? Me deu A LOUCA e pedi para ir embora, eu dizia que não aguentava mais, que queria ir embora, fui em direção a porta (nua) dizendo que iria embora e depois de muito custo me convenceram a ficar mais um pouco. Sugeriram canfora na água da banheira para tentar aumentar o tempo entre as contrações e com isso eu conseguiria descansar, então conseguiram com que as contrações viessem em um intervalo de tempo mais longo, cheguei a cochilar entre elas, mas daí aconteceu que a dor triplicou, era realmente lancinante.

Passei a respirar ofegante, a Cris pedia para eu respirar de uma maneira mais longa, mas eu não conseguia, comecei a duvidar de minha capacidade de parir, em minha cabeça giravam pensamentos de desgraças, pensava que demoraria muito ainda para o parto, que no expulsivo meu bebê me rasgaria toda, que eu morreria, que nada daria certo, que se meu bebê entrasse em sofrimento eu não me perdoaria por não dar tempo de chegar ao hospital (obviamente na Casa Angela, são treinados para evitar que coisas assim ocorram, mas eu não conseguia ser racional) e a sensação de morte foi me consumindo em todos os sentidos, me dei conta que estava entrando em CRISE DE PÂNICO, Nããããão, a Síndrome do pânico, não poderia desencadear naquele momento, passei super bem a gestação inteira, inclusive não precisei dos remédios psiquiátricos, há tantos anos já não tenho crise, mas ela estava lá, no meu trabalho de parto. Enfim, PIREI TOTALMENTE, a dor, o medo, a sensação de morte me levava a me arranhar toda, me socar, socar e morder meu marido e pedir DESESPERADAMENTE PARA IR EMBORA.

Quis ir para meu convênio, eu pedia anestesia ou cesárea, dizia que não aguentava mais, sentia um medo fora do normal, ,mas na verdade eu só queria um calmante, anestesia, ou qualquer coisa que fizesse aquele medo passar, eu precisava voltar a si para dar conta de toda aquela dor, com medo, crise de pânico. Lembro da Cris me dizer que a cesárea seria pior, pois a dor seria maior depois que a anestesia passasse, mas eu não conseguia ser racional, eu não conseguia me desfocar de todo aquele medo, pois a dor havia se transformado em sofrimento para mim naquele momento.

Fomos para o hospital do meu convênio, durante o caminho as dores iam aumentando progressivamente, meus pensamentos se focavam na dor e quando a contração parava eu só conseguia pensar no que fazer para evitar os maus-tratos que eu passaria no hospital, pedi para que o pessoal da Casa Angela me deixasse na rua ao lado, para evitar ser maltratada por verem eu chegar de uma casa de parto.

Ás 12h, ao chegar, fui atendida por um médico que pediu para eu tirar a roupa e me deitar, para ele me examinar, quando comecei a tirar a roupa travei por conta da contração e ele dizia para que eu fizesse o que ele estava mandando ou não me atenderia, esperei passar a contração, olhei fixamente nos olhos dele e disse que ele não deveria falar assim comigo, pois eu estava com dor e faria tudo no MEU TEMPO. Claro que ele não gostou nada e começou a me apavorar falando para eu respirar direito, pois se meu bebê morresse a culpa seria minha, pois ele estava me avisando disso, mandei ele calar a boca, pois eu sabia que meu bebê estava bem e que aquilo era uma crise de pânico. Ele mandou me internar disse que eu estava com quase 6 cm de dilatação, prescreveu soro e ocitocina (eu vi no papel de internação), claro que eu não deixaria!!!

Fui para a sala onde me colocariam no cardiotoco, a enfermeira queria que eu deitasse e eu disse que não deitaria por conta da dor, ela então começou a apertar minha barriga buscando o coração do bebê com o aparelho de cardiotoco, tomei da mão dela e coloquei delicadamente onde eu já sabia que estavam os batimentos cardíacos do meu bebê, fiquei sentada, ela não gostou, resolveu se livrar de mim, me mandou para o andar da maternidade, chegando lá tive que trocar de roupa, entrei em uma sala de pré parto, lá a outra enfermeira tentou colocar o acesso para me colocar no soro e claro que não deixei, fiquei andando pela sala e ela desistiu e foi embora, me abandonando por lá. Eu já não sabia se me concentrava nas dores das contrações ou se tentava buscar o mínimo de autocontrole para amenizar a crise de pânico.

Depois de alguns minutos chegou a médica, eu já estava dando socos nas costas quando vinham as contrações de tanta dor, ela então me sugeriu a cesárea, pois só me dariam a peridural, para um parto normal, se eu estivesse com ao menos 7cm de dilatação (até hoje, não sei qual é o argumento para essa regra deles), neste momento escutei uma mulher gritar “tira esse ferro daqui, você não vai enfiar isso em mim”, na hora aceitei a cesárea, pois obviamente ainda não estava em condição de pensar racionalmente e ao escutar essa mulher gritar aquelas palavras, já imaginei eles me rasgando todinha em um possível parto normal ali.

A médica então preparou a sala de cirurgia, chamou a equipe para me atender, foram todos com cara de ... (prefiro não dizer), pois estavam atendendo as “cesas eletivas” e provavelmente se incomodaram de atender uma mulher que estava em trabalho de parto, o anestesista pediu para eu ficar quieta, mas era praticamente impossível durante uma contração, mandei ele esperar, que faria tudo no meu tempo, daí ele não perdeu a oportunidade de fazer uma piada de mal gosto, dizendo que doeria menos que minha tatuagem que tenho nas costas (completo idiota), mas aguardou meu tempo como eu pedi.

Meu sofrimento era tanto, que nem senti a picada da anestesia, mesmo já anestesiada eu continuava me movimentando e gemendo como se estivesse com a dor das contrações, logo meu marido chegou na sala e meu bebê nasceu ás 12:45h, escutar o choro dele foi um alivio, que emoção, que alegria, trouxeram ele e colocaram no colo do meu marido, ele nasceu lindo, perfeito, meu marido encostou o rosto dele no meu, pele macia, rostinho quentinho.

Estava amarrada, não pude abraçá-lo, tampouco amamentá-lo, isso me doeu na alma, mas era o que tinha para aquele momento, na minha situação, foi o que deu para ser feito, sabia que aquela cesárea era completamente desnecessária, mas o que poderia ter feito na situação que me encontrava??!!! Sem dinheiro, sem um convênio que atendesse ao menos uma maternidade “tipo humanizada” e estando em um país que é cesarista!!!

Que misto de sensações, estava feliz por meu bebê, mas me doía até os ossos de tanta tristeza, tristeza a qual me consumia a alma, por estar naquela situação, por ter caído na cesárea desnecessária que tanto abominei, POR QUÊ, POR QUÊ, POR QUÊ??? POR QUE não fui forte o suficiente para evitar tudo isso??? Era o que eu me perguntava interminavelmente a todo instante!!!

Fiquei 5 dias no hospital, nos 2 primeiros dias em um quarto da pediatria, POIS ELES NÃO TINHAM QUARTO NA MATERNIDADE (fica comprovado que não estão preparados para receber mulheres em Trabalho de Parto, senão somente as de cesáreas agendadas), enfim, a cesárea é horrível, senti muuuuita dor, só me trouxeram meu bebê no dia seguinte, pois tinham medo de eu maltrata-lo ao lembrar de toda a dor e da crise que passei, por uma possível depressão pós parto, mas quando passei dos efeitos dos calmantes fiz o maior barraco e me trouxeram meu bebezinho.

Tentei fazer o máximo para tê-lo comigo de uma maneira humanizada, logo que ele chegou tirei a roupinha dele, fiz contato pele a pele, ofereci meu peito, ele passava o rostinho, lambia o bico e assim o-amamentei, não deixei darem banho nele, já que no hospital era tarefa das enfermeiras e não deixavam os pais fazerem isso (QUE ABSURDO!!!). E SIM, ele era o sujinho do hospital e eu A LOUCA hahahaha, DANE-SE, seu banho foi 3 dias depois EM CASA, com carinho e muita delicadeza (na verdade, lá no hospital dei banho nele escondida no chuveiro, hehehe).

Levantei as grades da cama e coloquei ele para dormir ao meu lado, as enfermeiras diziam que eu era louca, que poderia rolar em cima dele ou sufocá-lo e eu respondia sempre com a mesma frase, que meu instinto materno não era assassino e que eu me responsabilizaria por qualquer coisa, portanto faria o que EU QUISESSE (me julguem as desumanas!!! hehehe).

O pós-cirúrgico foi muito difícil, senti muitas dores, dependi de muita ajuda da minha mãe e estou traumatizada com a cesárea, só de falar em parto eu chorava e ainda choro de tanta decepção, ainda me sinto muito triste por não ter alcançado meu objetivo, mas não me arrependo de ter tentando o Parto Natural, mesmo com tantas dores EU TIVE UM LINDO TRABALHO DE PARTO, fui muito respeitada, tratada com muito carinho, passaria por tudo isso de novo, o atendimento na Casa Angela foi magnifico, só me arrependo da cesárea e das intervenções hospitalares no meu bebê, eu não passaria de novo por profissionais da saúde desumanizados, tampouco pela cesárea.

Se por ventura eu conseguir pensar em ter um outro filho, certamente será um VBAC (parto natural após cesárea) NÃO QUERO EM HIPÓTESE ALGUMA PASSAR POR OUTRA CESÁREA a não ser em risco de morte para mim e para o bebê, que superem os riscos do PN.

Contudo só tenho a agradecer a meu esposo que me acompanhou e me respeitou em todos esses momentos, a minha doula Cris e a todos que me deram colo e carinho após todo esse momento dificil. E principalmente a minha mãe que foi fundamental ao cuidar de mim por mais de 1 mês com tanto amor e carinho.

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